quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Senhor do Castelo




O documentário de longa-metragem “O Senhor do Castelo”, sobre o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna levou quinze anos para sua finalização, com direção de Marcus Vilar e Produção de Durval Leal Filho, as gravações tiveram inicio em 1992 na aula magna do Reitorado do Prof. Neroaldo Pontes, uma das primeiras aulas espetáculo ministrada por Ariano Suassuna. A realização é da ONG PARA’IWA, em co-produção da TV Viva, Comvídeo e Universidade Federal da Paraíba – PRAC-COEX, durante 72 minutos Ariano narra sua trajetória de vida e discorre sobre sua luta em defesa da língua portuguesa.
A figura lendária de Ariano, este Dom Quixote Armorial passeia no campo da emoção e da paixão, falando da sua herança de luta e resistência, desde a morte prematura do pai, na década de trinta, sua infância lúdica e repleta das tradições ibérica, e das personagens engraçadas da cultura sertaneja, e a criação do movimento Armorial na década de 70, fazendo aflorar momentos de lagrimas e risos no filme.
Com locações na Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro a produção contou com colaboração e apoio de vários pessoas e empresas ao longo desta trajetória, com consultoria de Idelette Muzart, Bráulio Tavares e Carlos Newton Júnior, foi estruturado o argumento por Idelette Muzart, Marcus Vilar e Torquato Joel, a trilha sonora tem a participação de Fernando de Farias Pintassilgo, Erivan Araújo do Grupo Tocaia, Antonio Nóbrega e Antonio Madureira.
A produção foi uma atitude de obstinação de Marcus Vilar e Durval Leal que realizaram o longa que contou com a colaboração decisiva de Guel Arraes, Luiz Fernando Carvalho e George Jonas que cederam imagens de suas produções das obras de Ariano e apoio do Governo da Paraíba, em 2003.
Marcus e Durval fazem parte da equipe da Coordenadoria de Extensão Cultural da Universidade Federal e desenvolvem ações de extensão cultural e produções audiovisual, o “O Senhor do Castelo” é o primeiro longa metragem da dupla que realizaram os filmes de curta metragem “A Canga” e “ O meio do Mundo”, premiados em vários Festivais de Cinema do Brasil e exterior.
O longa metragem já foi exibido numa versão de 58 minutos abrindo na abertura do Festival de Cinema de Recife, no dia 23 de abril, que faz uma homenagem a Ariano, no CINEPORT, em João Pessoa, no dia 12 de maio e no dia 14 de junho, nas comemorações do aniversário de Ariano no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, .

Duas Vezes Não se Faz

DUAS VEZES NÃO SE FAZ

Por Petrônio Souto*


Há lugares que possuem um magnetismo tão forte que prendem o visitante para sempre, desde o primeiro contato. É impossível esquecê-los. São coisas que passam a compor a nossa história pessoal. Seguramente, um desses lugares fantásticos é o Cabo Branco, em João Pessoa, Paraíba.

Num dia de maré baixa, experimente sair a pé da Praça de Iemanjá para contornar o Cabo Branco, indo até a Ponta do Seixas, voltando, em seguida, no mesmo ritmo, sem se preocupar com o relógio e com o cotidiano ordinário da cidade.

Tudo contribui para que o percurso se torne um momento transcendente: o silêncio de claustro, o mantra das ondas, o assovio das lufadas salgadas, o caminho com aparência de tapete luminoso, entre a falésia imponente e o mar calmo, o rumor sutil dos nossos passos sobre a areia. Para completar o encantamento, o céu azul e o Oceano Atlântico, que, no ponto mais oriental das Américas, parece não ter fim.

Quando aqui chegou, vindo de Campina Grande para morar pertinho do Cabo Branco, em 1976, Marcus Vilar certamente ficou fascinado por esse paraíso terrestre, que Deus, num excesso de confiança, entregou à guarda dos paraibanos.

Sem ter se deixado seduzir por aquele ambiente paradisíaco, Vilar jamais teria feito um filme tão belo como DUAS VEZES NÃO SE FAZ, curta-metragem de 12 minutos, produção do Para´iwa e Ponto de Cultura, com financiamento do FMC da Prefeitura de João Pessoa e apoio da UFPB-PRAC-COEX.

Usando trechos selecionados de obras de Vanildo Brito, Hermano José, Luís Augusto Crispim, Ascendino Leite e José Américo, intelectuais que exaltaram o Cabo Branco em prosa e verso, Marcus Vilar, contando com a parceria de Durval Leal Filho, na produção e edição, e com o auxílio luxuoso da narração impecável de Luís Carlos Vasconcelos, nos leva a fazer um passeio poético pelo que ainda resta de um dos mais belos monumentos naturais do planeta.

Em contraponto, “procurando evitar o panfleto”, como ele próprio afirma, o filme nos mostra, em tons dramáticos de um réquiem, a acelerada degradação do Cabo Branco, tanto pela ação natural dos ventos, das correntes marítimas e dos fluxos das marés, como pela intervenção tresloucada do homem. É aí que DUAS VEZES NÃO SE FAZ (título de um poema de Hermano José) se torna um desesperado pedido de socorro em favor do Cabo Branco.

Poema feito de sons e imagens, o filme de Marcus Vilar é também um canto de esperança. As cenas finais, em que a geógrafa Lígia Tavares, guerreira das causas do meio ambiente, conversa com meninos e meninas de uma escola da cidade, têm a força das coisas simples. A presença das crianças no local do desastre é a própria luz no final do túnel, a certeza de que nem tudo está perdido.

DUAS VEZES NÃO SE FAZ conquista o coração do espectador, a partir dos primeiros movimentos. Não tenho dúvidas de que, com a mesma intensidade, tocará a sensibilidade daqueles que podem fazer alguma coisa no sentido da proteção do Cabo Branco.


*Petrônio Souto é jornalista e cinéfilo.